Compreensão dos riscos associados ao uso indiscriminado de Ozempic (semaglutida) e a importância do acompanhamento multiprofissional

Resumo

O Ozempic® (semaglutida) é um agonista do receptor GLP-1 amplamente utilizado no tratamento do diabetes tipo 2 e, mais recentemente, empregado off-label para perda de peso. Embora demonstre benefícios importantes em controle glicêmico e em desfechos cardiovasculares em populações selecionadas, o uso indiscriminado tem aumentado, gerando preocupação quanto a eventos adversos gastrointestinais, hipoglicemia, complicações renais e potenciais riscos cardiovasculares quando mal manejado (PEZZI JUNIOR et al., 2025; BASER et al., 2024). Este trabalho sintetiza evidências recentes sobre os riscos do uso fora de indicação e argumenta pela necessidade de acompanhamento multiprofissional para reduzir danos, otimizar resultados e garantir segurança terapêutica.

Palavras-chave

Ozempic; Semaglutida; Risco; Uso indiscriminado; Acompanhamento multiprofissional.

Introdução

A semaglutida, comercializada como Ozempic®, tem se destacado por sua eficácia no controle da glicemia em pacientes com diabetes tipo 2 e por promover perda de peso em estudos clínicos (SABBÁ et al., 2022; LIMA et al., 2024). Por outro lado, o apelo estético ao emagrecimento rápido e a circulação de informações em redes sociais impulsionaram o uso off-label, muitas vezes sem orientação médica adequada (RODRIGUES; SILVA; SILVA EMILIANO, 2025).

"Sem o acompanhamento médico e multiprofissional, o uso do Ozempic pode se transformar de um aliado terapêutico em um risco real à saúde do paciente." (PEZZI JUNIOR et al., 2025)

Essa situação exige discussão: quais os riscos reais do uso indiscriminado? Como a atuação conjunta de médicos, farmacêuticos, nutricionistas e psicólogos pode mitigar danos? O presente texto reúne evidências recentes para responder essas perguntas de forma sucinta.

Metodologia

Foi realizada uma síntese baseada em revisão de literatura recente e em estudos selecionados nos últimos cinco anos, conforme estratégia PICO e critérios de elegibilidade descritos por Pezzi Junior et al. (2025). Foram priorizados ensaios clínicos randomizados, coortes retrospectivas e revisões integrativas que abordam efeitos adversos, desfechos cardiovasculares e implicações do uso off-label da semaglutida (E1–E10 conforme quadro da revisão).

Discussão

Benefícios comprovados e contexto clínico

Ensaios de grande porte, como os relatados nos estudos SELECT e FLOW, demonstraram que a semaglutida pode reduzir eventos cardiovasculares e retardar a progressão da doença renal em populações selecionadas com diabetes ou doença cardiovascular estabelecida (DEANFIELD et al., 2024; MAHAFFEY et al., 2024). Esses achados embasam o uso clínico quando acompanhado por monitoramento adequado.

Riscos associados ao uso indiscriminado

Já a literatura que examina o uso fora de indicação aponta riscos significativos. Entre os eventos adversos mais comuns estão náuseas, vômitos e diarreia, que podem levar a desidratação e desequilíbrios eletrolíticos (PEZZI JUNIOR et al., 2025; SAGRATZKI et al., 2023). Episódios de hipoglicemia são relatados, especialmente quando a semaglutida é combinada inadvertidamente com outros hipoglicemiantes sem ajuste posológico (Hsu et al., 2024).

Estudos observacionais indicam preocupações perioperatórias: a interrupção inadequada do fármaco antes de cirurgias pode aumentar o conteúdo gástrico residual e, portanto, o risco de broncoaspiração durante a indução anestésica (SANTOS et al., 2024). Existem também alertas sobre potenciais associações com pancreatite e, de forma controversa, risco de câncer de tireoide — tópicos que ainda carecem de evidência definitiva, mas que reforçam a cautela (FEIER et al., 2024; RODRIGUES; SILVA; SILVA EMILIANO, 2025).

Interações e populações vulneráveis

Pacientes com comorbidades (insuficiência cardíaca, doença renal crônica, uso concomitante de outros medicamentos) apresentam maior probabilidade de desfechos adversos se o medicamento for usado sem acompanhamento (BASER et al., 2024; MANN et al., 2024). A heterogeneidade das amostras nos estudos destaca que os benefícios não são universais e dependem de seleção criteriosa de pacientes.

Impacto social e automedicação

A procura por emagrecimento rápido criou um mercado não regulamentado, com usuários obtendo o fármaco por vias inadequadas ou utilizando doses sem prescrição. Revisões integrativas apontam para lacunas em políticas públicas e em educação em saúde que permitam o uso racional do medicamento (SILVA LINHARES et al., 2024; SANTOS e DEUNER, 2024).

Importância do acompanhamento multiprofissional

Diante do cenário, a literatura converge para uma solução prática: intervenção multiprofissional. Médicos definem indicação e dose; farmacêuticos acompanham a dispensação e as interações; nutricionistas orientam ajustes dietéticos para evitar perda de massa magra; psicólogos ajudam nos aspectos comportamentais ligados à imagem corporal e ao uso irregular de medicamentos (PEZZI JUNIOR et al., 2025; RODRIGUES; SILVA; SILVA EMILIANO, 2025).

"A atuação conjunta de profissionais de saúde reduz riscos, melhora adesão e previne automedicação — é essencial em tratamentos que mexem com metabolismo e peso." (COSTA et al., 2024)

Propostas práticas para manejo seguro

Com base nas evidências, sugere-se:

  1. Avaliação clínica detalhada antes da prescrição (comorbidades, medicações concomitantes);
  2. Plano de seguimento com ajustes posológicos e monitorização de efeitos adversos;
  3. Orientação nutricional visando preservar massa magra durante perda de peso;
  4. Educação do paciente sobre sinais de alarme (hipoglicemia, dor abdominal intensa, sinais de desidratação);
  5. Políticas de farmacovigilância e campanhas públicas para evitar uso off-label indiscriminado.

Conclusão

A semaglutida (Ozempic®) é um medicamento com evidências robustas de benefício em contextos clínicos específicos, mas o uso indiscriminado traz riscos reais que não devem ser subestimados. A literatura recente aponta para eventos adversos gastrointestinais, risco de hipoglicemia quando mal combinada com outros fármacos e potenciais complicações em populações vulneráveis (PEZZI JUNIOR et al., 2025; BASER et al., 2024). O melhor caminho é o manejo baseado em evidência, com seleção cuidadosa de pacientes e acompanhamento multiprofissional contínuo.

Observação: recomenda-se estudos futuros com amostras maiores e acompanhamento de longo prazo para melhor definir riscos raros e a segurança do uso off-label em populações não diabéticas.

Referências

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